29 de novembro de 2011

Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu / sarveṣāṁ śāntirbhavatu
Sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu / sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu
Oṁ. Que todos sejam prósperos. Que todos tenham paz.
Que todos tenham plenitude. Que todos sejam felizes.

20 de julho de 2011

BANDHAS

Definição: Contracções ou compressões sobre plexos, órgãos e glândulas, fechos para contenção e orientação do prána e da kundaliní.

Os bandhas são dispositivos que nos facultam a possibilidade de orientar os fluxos energéticos que circulam no corpo, por exemplo, os prána váyús. Cada fluxo energético tem o seu sentido e direcção, usando os bandhas inverte-se a direcção e dá-se-lhe um novo sentido. A sua grande finalidade é direccionar o prána no sentido de despertar a kundaliní. Podem ser executados individualmente ou combinados entre si, em simultâneo com os exercícios de pránáyáma ou com ásanas, interagindo para uma prática mais forte, intensa e eficaz. Também estimulam o funcionamento dos órgãos por massagem ou compressão, o equilíbrio das glândulas por massagem, compressão ou distensão e promovem a vitalização do organismo com equilíbrio, harmonia e energia.

Quando acoplados ao pránáyáma, aumentam o potencial energético do praticante e intensificam os efeitos obtidos nos exercícios respiratórios. Usam-se os bandhas, jalándharabandha e múlabandha para redireccionar o fluxo de prána váyú de cima para baixo e apána váyú de baixo para cima, respectivamente. Usam-se o jalándharabandha e jihvabandha para auxiliar e proteger quando pretendemos realizar longas permanências com os pulmões cheios ou vazios. Executando o uddiyanabandha estimula-se samana váyú e executando o jihvabandha estimula-se o udána váyú e previne-se a perca do amrita ou soma, o néctar da vida.

Na prática de ásana existem um ou mais bandhas possíveis de executar por cada posição. São excelentes dispositivos de segurança na medida em que proporcionam maior contenção de esforço durante a permanência e suporte para a localização da consciência na região do corpo que está a ser solicitada no momento de ajuste ou de correcção do ásana. Ao somarmos à prática de ásana os efeitos ou benefícios intrínsecos nos bandhas, obtemos uma bomba energética que fará explodir a vida em cada célula do nosso corpo e ampliamos a concentração e interiorização que nos permite sentir cada músculo, nervo ou tendão.

Jíhvabandha ou Kecharí mudrá (contracção da lingua) - Compressão da língua no palato mole.

Execução:

a) Leve a língua a comprimir o palato mole, aquela região macia no céu-da-boca. Retraia a língua para trás e para cima para que a sua extremidade pressione a região do palato mole e com prática alcançará a parte posterior à úvula, onde se situa o triveni que é o ponto de confluência das três principais nadis, idá, pingalá e sushumná. Antigamente os yogis cortavam o freio da língua para alcançar mais facilmente o triveni.

Quando a língua obstrui o duto de confluência entre as narinas e a garganta, este bandha recebe o nome de kechari mudrá e vence a morte.

Efeitos:

b) Estimula o domínio sobre si mesmo, sobre a raiva e a aflição, o apetite e a agitação, provém pureza e amor profundo. Estimula a pineal e a pituitária, o talo chakra, ajña chakra e sahasrara chakra. Nos textos antigos, o jihvabandha impede que o amrita ou soma (néctar divino da vida) saia pelo lalana chakra e seja consumido pelo fogo gástrico (samana). Acredita-se que esta contracção activa um ponto reflexológico via propagação da pressão intra-craniana, chamado lalana chakra, este chakra funciona como o armazem do soma ou amrita. Produz indirectamente a activação das glandulas pineal e pituitária, as quais são responsáveis pela produção do néctar que aumenta a longevidade e rejuvenescimento. Normalmente este bandha é acompanhado pelo bhrumadhya drishti.

Jalándharabandha (contracção do pote de água) - Compressão do queixo no peito ou contracção da garganta.

Execução:

a) Recue ligeiramente a cabeça e tombe-la à frente levando o queixo a comprimir o alto do peito, na depressão jugular e sem desfazer a verticalidade da coluna ou flexionar o tronco à frente. Para que resulte não é obrigatoriamente necessário o contacto do queixo no peito e se por alguma razão anatómica o seu queixo não alcança o peito, não force para o conseguir porque poderá ferir as vértebras cervicais.

Efeitos:

b) Estimula a tiróide, para-tiróide e o timo, o vishuddha chakra, hrd chakra e anáhata chakra. Activa a libertação de aceticolina que reduz o ritmo metabólico, previne as tonturas causadas pela variação do ph do sangue. É um óptimo complemento para longas permanências no ásana feitas com ar (kumbhaka) ou sem ar (shunyaka). Actua sobre as correntes pranicas do tórax e garganta, regula o fluxo de ar e prána na região do coração e pressiona idá nadi e pingalá nadí de forma que o prána é direccionado para a sushumná nadí.

Uddiyanabandha (contracção do caminho para cima ou vôo ascendente) - Contracção estática dos músculos abdominais para dentro e para cima, pode ser executado de forma estática ou com movimento.

Tamasuddiyanabandha (contracção estática)

a) Coloque-se de pé, com os pés afastados à largura dos ombros, flexione as pernas e pouse as mãos acima dos joelhos com os dedos voltados para dentro ou para baixo. Faça uma expiração e retenha os pulmões vazios, agora contraia o abdómen para dentro e para cima. Permaneça enquanto for possível e confortável manter os pulmões vazios.

Efeitos:

b) Estimula e fortalece o aparelho digestivo, intestinos, pulmões, pâncreas, supra-renais e o timo, normaliza a secreção do suco gástrico e elimina toxinas e disfunções dos aparelhos digestivo e excretor. Activa a circulação de prána e apána, estimula o manipura chakra, svadhisthana chakra e anáhata chakra. Fortalece o abdómen e reduz a sua dilatação. Actua no desenvolvimento da força de vontade e altruísmo, na protecção do corpo emocional e gera consciência da energia sexual.

Rajasuddiyanabandha - Contracção dinâmica dos músculos abdominais) (esta variação dinâmica é considerada uma kriyá e deve ser chamada de rajasuddiyanakríya, foi mencionada neste tema por consideração às diversas opiniões mas na realidade tem como efeito principal a limpeza interna).

Execução:

a) Com base no exercício anterior, expire e retenha os pulmões vazios, contraia o abdómen para dentro e para cima, agora descontraia e contraia, puxe para dentro e projecte para fora sucessivamente, pelo maior número de vezes consecutivas.

Efeitos:

b) Estimula o funcionamento do aparelho digestivo, intestinos, pulmões, pâncreas, supra-renais e o timo e activa o manipura chakra, svadhisthana chakra e anáhata chakra. Para além dos benefícios mencionados neste e no exercício anterior, revitaliza os orgãos e regenera o organismo promovendo a limpeza dos intestinos, estômago e pulmões.

Múlabandha (contracção ou fecho da raíz) - Contracção dos esfíncteres do ânus e da uretra de forma estática.

Execução:

a) Contraia os esfíncteres do anús e uretra para dentro e para cima. Este bandha actua em três áreas: primeiro contraindo o esfíncter anal, puxando-o para dentro e para cima, de seguida contraindo a região dos genitais, contraindo o esfíncter da uretra e por último, empurrando o umbigo para dentro, contraindo a região da baixo-ventre.

Efeitos:

b) Estimula os genitais, o sistema nervoso central, a energia e força sexual, combate a impotência e previne contra o cancro da próstata. Esta contracção, é supra indicada para as grávidas porque fortalece os músculos da vagina e evita o estado de incontinência que pode ocorrer no pós parto. Numa relação sexual é um óptimo dispositivo para o homem que pretende controlar a ejaculação precoce e evoluir numa relação mais intensa e duradora. Estimula o muladhára chakra, incentiva o despertar da Kundaliní, forçando o prána e apána a entrarem juntos em sushumná nadí.

Ashvinibandha (contracção e descontracção alternada da raiz) - Contracção e descontracção dos esfíncteres do ânus e da uretra de forma dinâmica.

Execução:

a) Com base no exercício anterior, contraia os esfíncteres do ânus e uretra para dentro e para cima, agora descontraia e contraia sucessivamente. Para quem tiver dificuldade em realizar o múlabandha poderá iniciar-se neste exercício que é relativamente mais fácil.

Efeitos:

b) Proporciona os demais benefícios mencionados anteriormente em múlabandha.

Bandhatraya - Conjugação de jalándhara, uddiyana e múlabandha.

Execução:

a) Este exercício resulta da conjugação de três bandhas realizados em simultâneo, jalándhara, uddiyana e múlabandha. Faça-o após a expiração e com os pulmões vazios. A execução mais funcional deste exercício deve ser feita no sentido ascendente.

Efeitos:

b) Para além de todos os benefícios associados individualmente aos respectivos bandhas, promove um incomparável fortalecimento e fluxo de energia.

Mahabandha - Compressão do calcanhar esquerdo no espaço entre o ânus e a uretra

Execução:

a) Sente-se em siddhásana, cruzando as pernas à frente do corpo com o calcanhar esquerdo pressionando a região do períneo. Mantenha a coluna erecta e faça uma mentalização da kundaliní a subir por sushumná, uma força de energia em tom laranja que brota de muladhára chakra. E ainda poderá associar ou acrescentar o antara ou bahia kumbhaka e outros bandhas.

Efeitos:

b) Este bandha auxilia o controlo sobre a função de ejaculação, estimula os genitais, estimula o muladhára chakra e a kundaliní e é um óptimo preparativo para a prática de dhyána (meditação).

25 de janeiro de 2011

HASTA MUDRÁ

Definição: Gesto, selo ou senha feito com as mãos.

Mudrá: Atitude, selo, gesto ou matriz. Este termo deriva das raízes mud, encanto, magia, satisfação e rati, dar, doar, e o sentido da palavra vai para a atitude que outorga, satisfação ou encanto. No yoga, mudrá representa uma expressão externa que acompanha uma atitude interna. As hastas mudrás são acima de tudo um estado de ser.

Uma linguagem gestual com actuacção simbólica, através da representação associada à natureza e seus protagonistas, deuses e deusas da mitologia hindú, à identificação com a tradição, cultura e herança que nos foram deixadas pelos mestres da antiguidade. Reflexológica por desencadear a receptividade, sintonia ou predisposição mental e fisiológica do praticante e por último, magnética, energética, induzem à sublimação e controlo da energia que circula no corpo sobre a forma de selos que encerram em si um estado alterado de consciência.

O meu intuito será o de expor essencialmente as hasta mudrás, que são gestos feitos com os braços, mãos e dedos e estas podem ser acopladas a outras técnicas como por exemplo no ásana, pránáyáma, bandha, trátaka, dhárana e dhyána ou executadas separadamente. Também poderemos encontrar na dança tradicional hindu diversas mudrás que servem para o actuante representar ou contar algum episódio, alguma história, devoção ou agradecimento. No kulanarva tantra que é um tratado tradicional do hinduísmo, faz-se menção a 108 mudrás.

Existem vários grupos tradicionais de mudrás que se podem aplicar na prática do yoga.

Hasta mudrá: (mão) Gestos feitos com os braços, mãos e dedos

Mana mudrá: (mente) Utilizados na prática de kundaliní yoga, envolvem a acção da mente e até certo ponto fundem-se com técnicas de meditação.

Kaya mudrá: (corpo) Combinações específicas de posturas corporais (ásana) com contracções sobre plexos, órgãos e glândulas (bandha), com exercícios respiratórios (pránáyáma), visualizações e exercícios de concentração. Este grupo poderá ser fácilmente encontrado na prática do hatha yoga tradicional e referido nas suas escrituras com bastante relevância para a evolução do praticante.

Bandha mudrá: (contracção ou compressão) Determinados bandhas executados com objectivos muito específicos.

Adhara mudrá: (suporte) Técnica para canalizar ou direccionar o prána (energia vital) dos centros de energia inferiores do corpo para a cabeça.

Classificação das hasta mudrás:

  1. Samyukta hasta mudrá, gestos feitos com ambas as mãos.
  2. Asamyukta hasta mudrá, gestos feitos com uma só mão.

A actuação das hasta mudrás:

As mudrás actuam por simbologia, reflexologia e magnetismo.

Podemos observar que certas mudrás têm um carácter mais simbólico, outras, um carácter mais magnético e por assim adiante, a bem dizer cada uma têm as suas características e geralmente induzem a estados de maior introversão ou extroversão mediante essas mesmas características.

São diversas as reacções e efeitos produzidos ou simplesmente desencadeados na fisiologia corporal, na mente, no inconsciente profundo, nas emoções, nos sentimentos e nos circuitos energéticos que percorrem o corpo.

Por simbolismo:

As mudrás geram por meio de simbolismo uma maior identificação com a tradição do yoga e com todos os seus intervenientes, deuses, seres da natureza, arquétipos e mestres.

Quanto maior o seu envolvimento com o estudo da cultura Indiana e com as suas tradições, maior a sua percepção e integração no momento em que executa a mudrá e processa a associação do simbolismo contido em cada gesto com a sua origem. É-lhe naturalmente concedida a correspondência entre o mundo sensível e o mundo das ideias.

Por reflexologia:

Quando se realiza constantemente um mesmo gesto (mudrá) e associamo-lo a um determinado exercício respiratório (pránáyáma) ou a uma postura física (ásana), criamos um condicionamento positivo ou um acto reflexo proporcionando ao corpo e mente, uma rápida e efectiva predisposição ou condição para o exercício que lhe fora associado. As mudrás induzem a um estado de maior tranquilidade, concentração, percepção e interiorização para a prática de dhárana, dhyána e pránáyáma. e são um excelente auxílio ou suporte na execução dos ásanas, e trátakas.

Por magnetismo:

Magnetismo é um fenómeno proveniente ou resultante da existência de energia mais ou menos acumulada nos corpos que sejam seus condutores.

Podemos alterar ou influenciar a circulação de energia através de uma simples movimentação da consciência pelo corpo, através da percepção de alterações no comportamento mental ou emocional, contracções de glândulas, órgãos ou plexos nervosos. Se compreendemos o facto de que tudo em nós é energia volátil, e considerando que se encontram distribuídos pelo nosso corpo diversos centros (chakras), canais (nadís) de energia e ramificações nervosas, bastará observar a disposição dos dedos que está directamente ligada ao sistema nervoso e usar a execução das mudrás como códigos que alcançam os estratos mais profundos da mente através da fisiologia corporal. As mãos actuam como receptores de energia (prána), e as mudrás orientam essa energia circulante, evitando que se dissipe ou disperse.

“Concentre-se no espaço, no momento, no propósito que aqui o trouxe e procure estar presente onde e quando tudo acontece”

As hasta mudrás mais usadas na prática (sádhana):

  1. Pránáyáma, nos exercícios respiratórios são naturalmente usadas as mudrás com maior carácter energético e reflexológico, tais como: Jñána mudrá, Mukula mudrá, Atman mudrá, Chin mudrá, Palli mudrá, Kapitha mudrá, Apána mudrá, Vishnu mudrá, Násagra mudrá, Prána mudrá, etc.
  1. Dhyána, na prática de meditação são geralmente usadas as mudrás com maior carácter simbólico e reflexológico, tais como: Bhairava Mudrá ou Shiva mudrá, também são usados os Jñana ou Chin mudrá com a particularidade de se manterem as mãos descontraídas, Samputa mudrá, Ganesha mudrá e Runy Sparsha mudrá.
  1. Ásana, a prática das posturas corporais e seja numa aula regular, na dança de Shiva ou numa demonstração, as mudrás são usadas livremente como um auxilio ou complemento que integram o lado estético, cultural e devocional das posturas ou no que se pretende evidenciar com a sua execução, tais como: Káli mudrá, Trimurti mudrá, Anjali mudrá, Mushti mudrá, Aprakáhsa mudrá, Abhaya mudrá, Vayu mudrá, Pataka mudrá, Alapadma mudrá, Matsya mudrá, Padma mudrá, Garuda mudrá, etc.
  1. Mantra e Pújá, é regularmente usado o Anjali mudrá ou Pronam mudrá com movimento de precursão de palmas na prática de mantra. Na pújá, que na realidade não é nenhuma técnica de yoga mas apenas uma tradição devocional de oferenda e retribuição da cultura Hindu, as palmas das mãos permanecem juntas e de frente ao peito quando se trata de um ser comum ou acima da cabeça quando direccionado a uma divindade ou mestre.

A relação de cada dedo com os chakras, com os elementos e a sua polaridade:

DEDO

CHAKRA

ELEMENTO

POLARIDADE

Polegar

Manipura

Fogo

Neutro

Indicador

Anáhata

Ar

Positivo

Médio

Vishuddha

Éter

Negativo

Anelar

Múládhára

Terra

Positivo

Mínimo

Swádhisthána

Água

Negativo