14 de março de 2012

KAYA STHAIRYAM

Definição: significa corpo firme, técnica para se obter a imobilidade total, e pronuncia-se Kaya Stheriam. A proposta desta técnica acenta na determinação em permanecer-se totalmente imóvel e após tomada essa decisão, deverá permanecer sem se mexer um milimetro que seja, nem mesmo para deglutir a saliva ou pestanejar.

Superar ou cessar efectivamente qualquer género de actividade é uma tarefa que exige predisposição e dedicação, nunca o faça pela via da imposição ou para satisfazer o ego. Não se enquadra na filosofia e não se coaduna com a proposta.

No contexto do yoga é uma ferramenta de controlo, para uma maior capacidade de interiorização ou tomada de consciência sobre nós próprios e mesmo assim, só conseguimos reduzir a actividade ao mínimo possível.

A mente foi concebida para trabalhar incessantemente, em maior ou menor actividade ela está sempre a laborar, as emoções estão sempre presentes e manifestadas ou não, são como os sentimentos que surgem em qualquer altura e por qualquer motivo. Já o corpo, essa estrutura move-se voluntária ou involuntariamente e pará-lo efectivamente, só com a morte do mesmo. Cessamos a actividade voluntária transcendendo o movimento do corpo e dedicamo-nos ao controlo da actividade involuntária, a mais subtil.

Imagine os efeitos desta acção para a inacção, sim, porque o que é realmente interessante é a forma como percorremos esse caminho, o desenrolar desta acção proporciona o conhecimento, a tomada de consciência, o controlo dos aspectos mais subtis que nos conduzem ao resultado final, a meditação.

Lembre-se, esta é uma técnica que tal como por vezes é sugerido que se foque apenas em um ponto e se abstraia de tudo o resto, também é possível abstrair-se de tudo e concentrar-se no desfocado. Quero dizer com isto que também é possível alcançar-se um estado meditativo na acção, em qualquer uma, o que conta é a determinação, o foco, a vontade de se lá chegar ou a capacidade de se reconhecer nesse estado meditativo.

Prepare o local como o faria para o seu sādhana regular, crie o ambiente mais aprazível queimando um pouco de incenso antes da prática, regule a intensidade da luz, vista roupa confortável para que não seja motivo de desconcentração ou incómodo, ou faça-o sem roupa se a temperatura ambiente o permitir. Escolha a melhor altura do dia e um bom momento para si, avise que não quer ser incomodado e desligue tudo o que possa perturbar este momento.

Dedique o tempo que considerar necessário para preparar este primeiro passo porque a sua prática começa aqui. A minha sugestão para a permanência total neste exercício é de 20 a 40 minutos, mas poderá permanecer por mais ou menos tempo, dependendo do seu conforto e intenção.

Sente-se numa posição confortável, poderá optar por siddhāsana, virāsana, vajrāsana ou padmāsana. Ajuste-se para que a postura adoptada permaneça firme, estável e sem estar em esforço. Verifique o assento, o contacto dos glúteos com o chão, a distribuição equitativa do peso do corpo, usando a coluna como eixo. Tome consciência do alinhamento da coluna, ajuste vértebra por vértebra, movimente a consciência como se estivesse a subir uma escada, degrau por degrau até ao topo. Verifique o equilíbrio do tronco, não oscile, nem para um lado nem para o outro, nem para a frente nem para trás.

Pouse as mãos sobre os joelhos em jñana ou chin mudrā. Mantenha a coluna erecta, abra o peito e alinhe os ombros, por fim, deixe a cabeça no alinhamento da coluna e relaxe os músculos da face.

Inicie com a respiração completa (rāja prāṇāyāma ou prāṇa kriyā) tomando consciência da mesma e de seguida coloque a respiração apenas no abdómen (adhama prāṇāyāma), faça-o até que esta se torne imperceptível e a partir desse momento deixará de interferir passando a respiração a ser naturalmente profunda, lenta e ritmada.

Percorra através da pele todos os contornos do seu corpo, sinta o espaço em volta, a distância a que se encontram todos os objectos de si, expanda a consciência alcançando tudo à sua volta, ampliando o seu espaço vital, o seu corpo energético e preenchendo todo o espaço que o rodeia.

Retorne, verifique de novo a posição e mantenha uma atitude de auto-observação durante todo o tempo de prática. Insista no alinhamento até o incorporar e crie raízes no solo.

Faça a vocalização dos bīja mantras em tom moderado durante 10 minutos e acompanhe a vocalização com a seguinte mentalização: Visualize a sílaba, o bīja mantra, sobre o local correspondente ao chakra. Até este momento já terão passado 20 minutos.

Volte à observação do corpo e da respiração, mantenha a mente vazia e focada no momento, não se identifique com mais nada para além da sua prática. Da mesma forma que os pensamentos lhe ocorrem os deverá deixar partir, sem se identificar com eles.

Vocalize o mantra Om em tom moderado e vá reduzindo o ritmo e o tom até que se torne mental e em sintonia com o batimento cardíaco.

Percorra novamente todos os contornos do seu corpo, sinta o espaço em volta, a distância a que se encontram todos os objectos de si, expanda a consciência alcançando tudo à sua volta, ampliando o seu espaço vital e suprimindo a sensação de fronteira entre si e todo o espaço que o rodeia. Como se todo o seu corpo se desintegrasse em ínfimas partículas e estas se fundissem com o ar. Neste momento não há peso ou forma, rigidez ou leveza, apenas a vibração do Om em perfeita sintonia com o batimento do seu coração.

Retorne novamente, mas desta vez, retorne de dentro para fora, retorne às linhas do seu corpo, à fronteira do interior com o exterior. Molde a consciência ao āsana, percorra o alinhamento da coluna, a firmeza, a estabilidade, sinta o contacto com o chão, o calor do seu corpo. Observe a sua expressão e deixe um leve ar de sorriso, faça de si mesmo um objecto de concentração e aguarde que tudo cesse naturalmente até surgir o silêncio e o vazio da meditação.

Terminados os 40 minutos, encerre a prática e faça uma torção para cada lado seguido de uma anteflexão sobre as pernas estendidas.

Experimente esta técnica na prática de āsana, use na prática de prāṇāyāma e explore o potencial desta ferramenta na prática de meditação (dhyāna).

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