14 de março de 2012

DRISHTI

Definição: Técnica de fixação do olhar. O termo drishti deriva da palavra drish, que significa literalmente olhar.

Estes exercícios surgem como uma ferramenta para a prática de dhāranā (concentração) e dhyāna (meditação). Esta técnica é uma ferramenta, um mecanismo para induzir ou facilitar a meditação, é usado como meio de partida para a execução de ekāgratā (um só ponto) e necessária a participação activa da vontade e consciência para manter a concentração em um só ponto. É muito fácil de perceber que os efeitos são quase que imediatos quando usamos os drishtis.

Esta técnica é muito útil para auxiliar a prática de concentração ou meditação e ou aumentar o foco na acção que realizamos, também auxiliam a prática de exercícios respiratórios (prāṇāyāma) e por fim, a prática de certas posturas corporais (āsana). Exercem um efeito estimulante no sistema nervoso central, via nervos ópticos, auxiliando na estabilidade das frequências das ondas mentais e propiciando o processo de estabilização da mente.

Nas práticas tantricas usa-se a fixação do olhar no parceiro ou parceira, nos olhos ou numa outra determinada parte do corpo. No ashtanga vinyāsa yoga, os drishtis estão bem presentes no āsana e variam conforme a posição. São introduzidos pelo seu suporte à concentração, ao alinhamento e estabilidade da mente e recebem o nome de nava drishti. No hatha yoga os drishtis estão presentes em algumas das tradicionais mudrās descritas no Hatha Yoga Pradīpikā.

Apesar dos registos já mencionados, quanto à utilização dos drishtis, a sua realização pode muito bem extrapolar esses registos e ser ajustada ao livre arbítrio de cada um. Para além do suporte que dão na prática de meditação, use como instrumento gerador de concentração na prática de āsana e prāṇāyāma, explore os seus efeitos e diversifique na sua aplicação.

Efeitos: Melhoram a concentração e a capacidade de memória, são úteis para combater estados depressivos e de ansiedade. No plano subtil, estimulam o ajña chakra, promovem a intuição, a clarividência e a percepção das manifestações subtis das coisas.

No início, o esforço que é realizado pode mesmo tornar-se insuportável pelo desconforto ou cansaço ao tentar imobilizar o olhar mas procure manter a sua mente tranquila e relaxe. À medida da sua capacidade vá aumentando progressivamente o tempo de permanência e os seus olhos abituar-se-ão naturalmente. Os trātakas servem de consolo e compensação, realize posteriormente os trātakas para evitar lesões, relaxar e revitalizar os músculos e tendões oculares.

Não confunda drishti com trātaka. Drishti é a fixação do olhar, trātaka é a concentração num objecto exterior através da fixação ocular, pode ser feito com os olhos abertos ou fechados e trata-se de um exercício de percepção visual para manutenção e protecção ocular, meramente físico e sem intervenção mental, se me for possível dizer isto.

Estes são os drishtis mais representativos para a prática de meditação.

Nasāgra ou Nasikagra drishti (na extremidade do nariz):

1. Consiste na fixação do olhar na extremidade do nariz, usa-se nos exercícios respiratórios, nas posturas corporais e na meditação. Desenvolve a capacidade de concentração e estimula o ajña chakra.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e sem tombar a cabeça para a frente, deixe os olhos semifechados fixando o olhar no nariz, procure visualizar ambas as narinas e sem criar tensão alguma. Após algum tempo de permanência, feche os olhos e volte o seu olhar para dentro para o espaço interior da sua cabeça (chidākāsh) até que a consciência se absorva em si mesma.

Bhrūmādhya drishti (no intercílio ou trikuti, ponto entre as sobrancelhas ou ajña chakra):

1. Consiste na fixação do olhar num ponto entre as sobrancelhas, no trikuti, região do ajña chakra. Facilita e desenvolve os estados meditativos, concentração do pensamento e também produz uma sensação de estabilidade e firmeza.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e sem tombar a cabeça para trás. Direccione o olhar para o intercílio, para cima e ao centro ficando com a visão ligeiramente turva mas sem tensão ou desconforto. Após algum tempo de permanência, feche os olhos e volte o seu olhar para dentro para o espaço interior da sua cabeça (chidākāsh) até que a consciência se absorva em si mesma.

Bhūcharī drishti (no vazio):

1. Consiste em fixar o olhar no vazio. É uma excelente introdução à meditação gerando um estado de consciência de maior contemplação.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Fixe o olhar num ponto ou pormenor do dorso da sua mão que se encontrará a um palmo de si e à altura do rosto. Após algum tempo de permanência retire a mão mas permaneça visualizando o mesmo pormenor ou ponto, anteriormente observado. Concentre-se por algum tempo no vazio.

Agni drishti (no fogo):

1. Fixação do olhar no fogo de uma vela ou fogueira.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Sente-se de frente a uma fogueira mantendo uma distância razoável de segurança e fixe a chama, fixe as variadas cores que se apresentam, fixe a luz emanada, o brilho e as formas que resultam e abstraia-se de tudo o resto. Permaneça por algum tempo de olhos abertos absorvendo cada pormenor e de seguida feche os olhos transportando a imagem para dentro da mente, mantendo a visualização da mesma como se estivesse de olhos abertos. Esta sugestão também é válida para o uso de uma vela.

Tāra ou Tāraka drishti (numa estrela):

1. Fixação do olhar em uma ou mais estrelas.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Fixe o olhar no horizonte, procure uma estrela no negro do céu, procure o brilho mais intenso para facilitar a sua fixação. Deixe-se absorver pela imagem e abstraia-se de tudo o resto, faça-o de olhos sempre abertos ou feche e transporte o brilho da estrela para a sua mente.

Chandra drishti (na lua):

1. Fixação do olhar na lua em qualquer fase em que se encontre.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Fixe o olhar no horizonte e observe cada pormenor na forma como a lua se apresenta, na luz que emana, na áurea à sua volta e abstraia-se de tudo o resto. Faça-o de olhos sempre abertos ou feche e transporte a imagem para a sua mente. Também poderá realizar este exercício recorrendo ao reflexo da lua num espelho, num lago ou no mar.

Sūrya drishti (no sol):

1. Fixação do olhar no sol, por hora do seu alvorecer ou quando se está a pôr e jamais na hora mais intensa da sua manifestação de calor e luz.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Fixe o olhar no horizonte e observe o sol, mantenha o olhar firme na sua luz, na cor e na forma que apresenta. Faça-o de olhos sempre abertos ou feche e transporte a imagem para a sua mente.

Shakta ou shaktī drishti (no(a) parceiro(a):

1. Fixação do olhar no parceiro ou parceira, na imagem completa ou apenas em uma parte específica do corpo.

2. Sente-se de frente e o mais próximo possível do outro, fixe o seu olhar nos olhos, na boca ou em qualquer outra parte do corpo. Também poderá optar por manter uma determinada distância, a que achar necessária para conseguir observar a imagem do outro por completo. Para além de partilharem um momento de contemplação e meditação em conjunto, também poderão partilhar afecto e resoluções positivas para a relação.

Guru drishti (no mestre):

1. Fixação do olhar na imagem do mestre, no seu em um outro qualquer que represente para si algo merecedor da sua atenção.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Fixe a imagem do mestre através de uma foto ou quadro, nunca pessoalmente porque não seria de bom-tom. Escolha a imagem que represente para si o objectivo da meditação, a de um mestre ou divindade

Todos eles podem ser feitos com os olhos abertos e denominam-se por bahiranga drishti, externo ou voltado para o lado de fora e ou com os olhos fechados, antaranga drishti, internos ou subtís.

Os seguintes exercícios são os denominados nava drishti, do ashtanga vinyāsa yoga:

Nasāgra ou Nasikagra drishti: Fixação do olhar na extremidade do nariz

Bhrūmadhya drishti: Fixação do olhar no intercílio ou trikuti, ponto entre

as sobrancelhas, região do ajña chakra

Nabi drishti: Fixação do olhar no umbigo

Hastagrai drishti: Fixação do olhar numa das mãos

Pādayoragrai drishti: Fixação do olhar nos dedos dos pés

Pārshva drishti: Fixação do olhar para um ou para o outro lado do corpo, por cima do ombro (conta como dois exercícios independentes)

Angustha madhyai: Fixação do olhar nos dedos polegares

Ūrdhva ou Antara drishti: Fixação do olhar acima do rosto, para o céu

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